O canto livre de passarinhos que moram nas árvores ao redor da unidade prisional dita a trilha sonora. De duas salas improvisadas, e que mais parecem um atelier, 4 detentos imprimem novo significado aos objetos que até então eram a prisão de pequenas aves.
Desde outubro do ano passado, o Centro de Detenção Provisória “Dr. Félix Nobre de Campos”, o CDP de Taubaté, hospeda o projeto “Gaiolas do Bem”.
A proposta já transformou e remodelou quase 200 gaiolas apreendidas pela Polícia Ambiental junto com animais silvestres na região do Vale do Paraíba.
A ideia é dar utilidade decorativa às gaiolas que, inicialmente, ficavam sem função na Fazenda Renópolis, área de reserva para tratamento e soltura de animais silvestres apreendidos ou resgatados, localizada no município de Santo Antônio do Pinhal.
O trabalho de pintura e reconfiguração das gaiolas foi levado para o sistema prisional por intermédio de Marcia Toledo, representante do Conselho da Comunidade à frente do projeto. “As gaiolas são transformadas para serem usadas como decoração para colocar frutas para os pássaros virem e irem. Exatamente o oposto daquilo que elas foram construídas”, explica. “Os presos estão ‘desengaiolando’, mudando o contexto de aprisionamento para liberdade”, poetiza Marcia.
O comércio dessas peças retrabalhadas artesanalmente é de reponsabilidade do Conselho da Comunidade do Departamento Estadual de Execução Criminal (Deecrim)/9ª RAJ (Região Administrativa Judiciária). Parte do dinheiro arrecadado com a venda é destinado para a Fazenda Renópolis para ajudar no tratamento de animais resgatados; a outra parte vai para a manutenção do próprio projeto, como aquisição de tinta, lixa, pinceis e outros itens. Os detentos recebem remição de pena pelos dias trabalhados, além de ganharem um espaço sugestivo para reflexão.
“Eu pedi para minha mãe soltar os 6 canários que a gente tinha, depois que comecei esse trabalho”, revela o detento Danilo, de 26 anos, enquanto pinta cuidadosamente de azul – da cor do céu – uma gaiola. Nesse momento, a voz do jovem recluso compete com o som animado de passarinhos do lado de fora do presídio.
Melhoria contínua
As gaiolas chegam na unidade prisional e passam por processo de limpeza, remodelagem e pintura. As cores são aplicadas e oferecerem bom gosto e alegria aos objetos. Ao todo, 196 gaiolas já foram modificadas pelos 4 detentos participantes do projeto. Uma das inovações mais recentes é a lapidação em sabonetes que dá corpo e forma a passarinhos, que, mais tarde, ocupam os poleiros das “gaiolas do bem”.
“Toda atividade desenvolvida dentro de uma unidade prisional traz inúmeros reflexos na vida da pessoa presa. Uma das principais é a autoestima, uma vez que a pessoa em atividade se sente útil e ‘sai’ da rotina do cárcere, assim, ela fica mais feliz, calma e participativa”, garante o diretor geral do CDP de Taubaté, Claudio José do Nascimento Brás.