A morte de um homem negro desarmado, depois de ser imobilizado no chão com um policial ajoelhado no pescoço dele, reacendeu o debate sobre a brutalidade da polícia contra as minorias raciais nos EUA.
George Floyd, de 46 anos, que trabalhava como segurança em um restaurante em Minneapolis, foi abordado por policiais que responderam a uma chamada de suspeita de uso de cédulas de dinheiro falso na noite de 25 de maio.
Um vídeo de 10 minutos filmado por uma testemunha mostra Floyd suplicando e dizendo repetidamente “não consigo respirar” para um policial branco.
O incidente ocorreu no mesmo dia em que viralizaram as imagens de uma mulher branca em Nova York chamando a polícia dizendo estar sendo ameaçada por um homem negro após uma discussão trivial sobre o cachorro dela, que estava solto.
Mais de mil mortos a tiros pela polícia em 2019
A morte de Floyd chama atenção para estatísticas preocupantes sobre assassinatos cometidos por policiais nos Estados Unidos.
De acordo com um levantamento do jornal Washington Post, 1014 pessoas foram mortas a tiros por policiais no país em 2019, e estudos mostram que as principais vítimas foram americanos negros.
Um estudo da ONG Mapping Police Violence aponta que, nos EUA, negros têm quase três vezes mais chances de serem mortos pela polícia do que brancos.
A brutalidade policial inspirou reações como o movimento #BlackLivesMatter (Vidas negras Importam), surgido em 2013.funda. Celebridades como a cantora Beyonce e a estrela do basquete Lebron James endossaram publicamente as campanhas.
A seguir, veja algumas das muitas vítimas cujas mortes provocaram protestos contra a brutalidade policial.
Trayvon Martin, 26 de fevereiro de 2012
Trayvon Martin, um estudante negro de 17 anos do ensino médio, foi morto a tiros por George Zimmerman em Sanford, Flórida.
Martin estava visitando parentes em um condomínio fechado quando foi confrontado por Zimmerman, um vigia voluntário atuando em um bairro hispânico.
Em 2013, um júri considerou Zimmerman inocente. A lei dos EUA permitiu que ele dissesse que atirou em Trayvon em legítima defesa, mas a família e os amigos do adolescente sempre insistiram que se tratava de assassinato.
O assassinato foi determinante para desencadear o movimento social Black Lives Matter.
Eric Garner, 17 de julho de 2014
Eric Garner morreu por asfixia em Nova York, depois de ser preso por suspeita de vender ilegalmente cigarros soltos.
Imagens do episódio mostram Garner gritando repetidamente “não consigo respirar”, enquanto um policial branco, Daniel Pantaleo, é visto agarrando seu pescoço com um golpe de estrangulamento por trás, também conhecido como “gravata” ou “mata-leão”, enquanto eles lutavam no chão.
Um júri do Estado se recusou a apresentar queixa criminal contra Pantaleo, desencadeando protestos em várias cidades americanas.
Pantaleo foi demitido do Departamento de Polícia de Nova York cinco anos após o evento.
Michael Brown, 9 de agosto de 2014
O movimento Black Lives Matter ganhou mais visibilidade internacional depois que Michael Brown, de 18 anos, foi morto a tiros após uma briga com o policial branco Darren Wilson.
O incidente em Ferguson, Missouri, provocou protestos violentos que terminaram em uma morte, várias pessoas feridas e centenas de prisões.
Outros protestos eclodiram em novembro daquele ano, depois que um júri decidiu não indiciar Wilson, que se demitiu da polícia.
Walter Scott, 4 de abril de 2015
Walter Scott, um homem negro de 50 anos, foi baleado três vezes nas costas enquanto fugia do policial Michael Slagger em North Charleston, Carolina do Sul.
O policial havia parado o carro de Scott por causa de uma luz quebrada. Na época, Scott era sujeito a um mandado de prisão por atraso no pagamento de pensão alimentícia.
Slagger foi condenado a 20 anos de prisão em 2017, enquanto a família de Scott conseguiu uma indenização de US$ 6,5 milhões das autoridades de North Charleston.
Freddie Gray, 12 de abril de 2015
Apenas uma semana após o tiroteio de Walter Scott, outro caso polêmico ocorreu em Baltimore, Maryland.
Fred Gray, de 25 anos, foi preso por porte de arma depois que policiais encontraram uma faca no bolso dele.
Um vídeo filmado por uma testemunha mostra Gray gritando enquanto é levado para uma van da polícia. Algumas horas depois, ele foi internado em um hospital com uma lesão medular grave.
Ele morreu uma semana depois e protestos violentos terminaram com pelo menos 20 policiais feridos.
Três dos seis policiais envolvidos em sua prisão foram considerados inocentes de sua morte e os outros três nunca foram julgados.
Sandra Bland, 13 de julho de 2015
Sandra Bland, de 28 anos, foi detida pelo policial do Texas Brian Encinia por uma pequena infração de trânsito.
Ao ser abordada pelo policial, ela acendeu um cigarro e se recusou a apagá-lo. Bland foi presa e acusada de agredir um policial depois de protestar contra a operação.
Três dias depois, ela se matou na cadeia. Embora Bland não tenha sido morta por ação policial, sua morte provocou indignação em todo o país.
Seu caso popularizou o #SayHerName (Diga o nome dela), um movimento social para conscientizar as mulheres negras vítimas de brutalidade policial.
Bland também se tornou tema de um documentário exibido pela HBO em 2018.
Philando Castile, 6 de julho de 2016
Philando Castile foi baleado pelo policial Jeronimo Yanez após uma blitz de trânsito em Falcon Heights, Minnesota.
As consequências do incidente foram transmitidas ao vivo pela namorada da vítima.
Embora o policial Yanez tenha sido acusado de homicídio em segundo grau e duas acusações de disparo de arma de fogo, ele foi absolvido por um júri menos de um ano depois.
Botham Jean, 6 de setembro de 2018
Botham Jean, de 26 anos, foi morto em seu próprio apartamento pela policial Amber Guyger, que estava de folga.
A policial disse que havia entrado no apartamento do contador por engano pensando que era o dela. Ela atirou em Jean, que estava desarmado, acreditando que ele era um ladrão.
Um ano depois, Guyger foi condenada a 10 anos de prisão.
Atatiana Jefferson, 13 de outubro de 2019
Atatiana Jefferson, de 28 anos, estudante de medicina, foi morta a tiros em seu próprio quarto em Forth Worth, Dallas, pelo policial Aaron Dean.
Dean fora enviado para o endereço dela após o alerta de um vizinho, dizendo que a porta da frente de Jefferson estava aberta — e atirou nela pela janela do quarto.
Ele foi acusado de assassinato, mas ainda não foi julgado.
Breonna Taylor, 13 de março de 2020
Breonna Taylor, uma médica de emergência médica de 26 anos, foi baleada oito vezes quando policiais entraram em seu apartamento em Louisville, Kentucky, no dia 13 de março.
Eles estavam executando um mandado de busca como parte de uma investigação sobre drogas, mas nenhuma droga foi encontrada na propriedade.
A família de Taylor acredita que os policiais não estavam procurando por ela ou seu parceiro, mas por um suspeito não relacionado a eles que já estava sob custódia e não morava no complexo de apartamentos.
A polícia de Louisville disse que os policiais reagiram a tiros depois de um deles ter sido baleado.