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quarta-feira 25 dezembro 2024
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Carta fraterna

• José Passini – Juiz de Fora/MG
Cônscio da responsabilidade que cabe a todos nós, espíritas, no sentido da manutenção da fidelidade à Doutrina que nos ilumina os caminhos, é que tomamos a liberdade de trazer-lhe, minha Irmã, meu Irmão, algumas considerações a respeito do cuidado que devemos ter quanto ao uso do nome “Espiritismo”.
No Espiritismo não há autoridades religiosas que devam ser consultadas a fim de darem seu parecer favorável ou contrário a qualquer publicação, seja livro, filme, programa na internet. Uma das vigas mestras da estrutura do Espiritismo é a liberdade. Mas, essa liberdade atribui, ao mesmo tempo, alta responsabilidade, àqueles que dirigem uma instituição espírita, seja um centro, uma editora, uma livraria ou um clube do livro, pois que têm responsabilidade direta por aquilo que é passado ao público, em nome do Espiritismo. Uma análise criteriosa de algo passado ao público em nome da Doutrina é, não raro, tachada de intolerância, de censura. Se a obra em questão é mediúnica, há aqueles que consideram falta de caridade praticada contra o médium, qualquer observação discordante.
O Espiritismo é uma doutrina de livre-exame, adotada por livres-pensadores. Seu embasamento dá-se em Jesus e em Kardec. Noutras religiões, há conselhos formados por membros que detêm poder no campo doutrinário, e esses conselhos deliberam sobre pessoas que devam ser acatadas ou banidas do grupo, como também deliberam sobre práticas, inovações e publicações.
No Espiritismo não há nada disso. Entretanto, todos os espíritas temos responsabilidade definida naquilo que apresentamos ou que apenas prestigiamos em nome da Doutrina. Cada espírita é, na sua área de atuação, um guardião dos seus princípios básicos, cabendo-lhe – para ter o direito de dizer-se espírita – o dever de, no âmbito de suas atividades, resguardar-lhe a coerência, a nobreza, a objetividade, a clareza, a simplicidade e a fidelidade aos princípios ético-morais do Evangelho de Jesus e aos princípios doutrinários estabelecidos pelos Espíritos Superiores, codificados por Kardec.
Assim sendo, um espírita ao tornar público algo que diga respeito à Doutrina, não necessita obter permissão de nenhum órgão censor ou controlador. Entretanto, deve avaliar se aquela mensagem – seja um simples folheto, uma mensagem recebida mediunicamente num centro, um artigo ou um livro – vai contribuir para o despertamento ou para o esclarecimento de alguém. Deve avaliar, com segurança, se acrescenta algum conteúdo útil, ou se está apenas repetindo lugares comuns, levando seus leitores ou ouvintes a uma perda de tempo. A questão se reveste de maior gravidade quando o leitor ou o ouvinte não conhece o Espiritismo. Algumas vezes, certos livros ou oradores causam péssima impressão seja pela ingenuidade dos conceitos, seja pelos absurdos apresentados.
Infelizmente, esse é o quadro com que nos deparamos na atualidade. Nota-se uma verdadeira avalancha de publicações ostentando o nome de espíritas. Vão desde as simples mensagens mediúnicas obtidas em centros espíritas, até a obras volumosas, mediúnicas ou não, cujos autores lançam ao público, sem uma avaliação cuidadosa quanto aos efeitos que sua iniciativa possa produzir.
Há publicações contendo comunicações simplórias obtidas em reuniões mediúnicas, sem conteúdo algum e, às vezes, com conteúdo equivocado, até contrário àquilo que a Doutrina Espírita ensina.
Outras vezes, são livros com revelações mirabolantes, em linguagem não-condizente com a seriedade e a nobreza sempre observadas nas expressões dos Espíritos comprometidos com o Bem. São obras que, de permeio a algumas páginas boas, com bons comentários a respeito do Evangelho, trazem longas descrições de zonas tenebrosas, capazes de criar imagens negativas nas mentes menos avisadas, revivendo em muitas a terrível imagem do sofrimento após a morte. Outras, fazem revelações mirabolantes, profecias de ocorrências catastróficas, muitas das quais já se têm revelado falsas, por não se terem efetivado.
Nota-se, no ar, uma tendência infrene de se publicar tudo o que aparece, como se o maior trabalho que se faz no Espiritismo fosse a sua propaganda, feita de qualquer modo. Conscientizemo-nos de que o Espiritismo não precisa de promoções, como se fosse mercadoria a ser apresentada ao público. Embora não pareça, há diferença entre propaganda e divulgação. A divulgação do Espiritismo será muito mais eficaz se promovida através de literaturas e de palestras equilibradas, comedidas e, principalmente, da vivência pessoal, pelos espíritas, dos postulados do Evangelho.
Lembremo-nos de Kardec que, malgrado o pouco tempo de que dispunha, face aos deveres profissionais, apesar dos imensos tabus religiosos reinantes, do custo elevado de material impresso, sem rádio, televisão ou internet, conseguiu divulgar o Espiritismo de maneira espantosa.
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A Doutrina foi sendo difundida, sempre em ritmo crescente, com segurança, firmeza e seriedade. Por que, agora, pretender-se uma propaganda leviana, sensacionalista, oportunista? Por que nos encantarmos com o volume de edições de livros, se não lhes avaliamos o conteúdo? Ou mesmo com o sensacionalismo de alguns expositores desejosos de inovar?
O que responderemos àqueles que, ao ingressarem nos estudos da Doutrina, nos perguntarem sobre isso? Onde está o nosso zelo para com a Doutrina a que tanto devemos, face aos novos horizontes que delineia para nós?
Há aqueles que argumentam, dizendo que temos liberdade de ler tudo, como base em Paulo: “Examinai tudo. Retende o bem.” (I Tes, 5:21) Sim, é verdade, não existe nenhuma orientação espírita no sentido de proibir qualquer leitura. Mas, devemos ter em mente que podemos comprometer o nome do Espiritismo não com o que lemos, mas com o que damos a público em seu nome. Por isso, é lícito nos perguntemos se temos tido o cuidado de examinar o que se publica em nome do Espiritismo. Ou temos deixado correr? Quem é o responsável pela fidelidade doutrinária?
Urge, mais do que nunca, uma ação corajosa, consciente de fidelidade não só à Doutrina, mas a nós próprios, à nossa consciência, pois “quem cala, consente”.