Após a boa recepção de público da série Carcereiros, realizada pela TV Globo, baseada em livro homônimo de Drauzio Varella, o caminho natural das coisas é transformar a obra em algo ainda maior, adaptando para a sétima arte.
Trazendo alguns personagens diretamente da série e, principalmente, seu protagonista Adriano, vivido pelo ator Rodrigo Lombardi, o longa não tem, necessariamente, ligação com a contraparte da telinha, sendo uma obra que funciona plenamente de forma individual. Os personagens são estabelecidos rapidamente, sem desenvolvimento e sem camadas adicionais de personalidade, sendo todos bem unidimensionais e não apresentando nenhuma mudança de comportamento a partir do determinado. Adriano é o único personagem a receber qualquer plano de fundo que tenta construir alguma forma de se relacionar com o público, enquanto os outros desempenham papeis apenas funcionais para a trama.
O roteiro escrito por quatro pessoas é simples, mesmo que ensaie uma pequena reviravolta pela metade da projeção, de forma tão discreta, porém, que acaba não causando tanto impacto na trama. Pensando de modo geral, o roteiro é bem eficiente em contar a história que é mostrada, não perde tempo com subtramas e evolui de maneira que consegue manter o público envolvido. O elo mais fraco, talvez, fique por conta de algumas decisões e ideias que a narrativa insere na trama que tornariam o filme mais enxuto se não existissem, como a aparente necessidade da inserção de uma crítica ao sistema, que poderia ser evitada para manter o foco no interior do presídio, ainda que não cheguem a estragar algo.
Na direção, José Eduardo Belmonte faz um trabalho mediano, conduzindo a narrativa sem perder o ritmo e, surpreendentemente, conseguindo omitir um pouco da violência presente na tela sem precisar explicitar o impacto das cenas. A escolha pelo uso da câmera na mão soa um tanto exagerada, assegurando o tom caótico até mesmo fora de hora. E por falar em exagero, a trilha sonora é, sem dúvida, o quesito técnico mais perceptível da produção. Completamente intrusiva e, por vezes, fora de tom, a trilha invade as cenas de modo pouco orgânico e tira o espectador da imersão que o filme tenta causar.
Mesmo no cinema, Carcereiros: O Filme mantém a roupagem de série com uma linguagem simples e abordagem direta, entregando um bom entretenimento para suas quase duas horas de duração mesmo que não entre para o panteão de grandes obras nacionais.
Carcereiros: O Filme
nov 30, 2019Bruno FonsecaColuna de CinemaComentários desativados em Carcereiros: O FilmeLike