Já aconteceu com você de ir até um cômodo e quando chega lá não sabe o que foi fazer?
Já perdeu os óculos? A chave do carro? O celular? A carteira? E essa faz bater o desespero.
Ah, meu Deus, tirar segunda via da carteira de habilitação, documentos do carro? E os cartões de banco? Do plano médico? Só por Deus…
E quando você sai de casa e não sabe se apagou a luz? Fechou a janela? Trancou as portas? E o ferro elétrico? Esse não tem jeito, tem que voltar pra verificar.
Aí você fica pensando…Alzheimer? Oh, meu Deus, ferrou.
Que Alzheimer nada, talvez o problema seja a idade? Xiii…a coisa tá feia, mas ainda prefiro pensar que é a idade, afinal, o tempo passa para todos e se envelheço por fora, é claro que envelheço por dentro também, né? Então, nada a se preocupar, só estou ficando velho, mas que esquecimentos atrapalham e irritam, ah isso sim.
Veja o que aconteceu comigo em uma segunda-feira.
Ou será que foi a ressaca?
Normalmente saio para o trabalho, por volta das 7h45 e naquela segunda-feira não foi diferente. Tirei o carro da garagem, tranquei o portão e quando ia saindo pensei — Não fechei a porta da cozinha — e é claro resmunguei. — Oh, droga.
Hesitei alguns segundos enquanto tentava me lembrar com clareza se havia fechado ou não. Me lembrava de ter aberto, mas não de ter fechado, respirei fundo, desliguei o carro, abri o portão, a porta da sala, corri até a cozinha e, é claro, a porta estava trancada. Aproveitei que estava dentro de casa e fui até meu quarto pra ver se tinha desligado o ventilador de teto, um item que, por várias vezes, esqueci ligado, mas naquela manhã havia desligado.
Bom, agora já atrasado (e bem irritado), corri para a sala, tranquei a porta, sai, tranquei o portão e, com pressa, fui para o carro e….e…cadê a chave? Mas, que coisa! Como é possível isso? Estava comigo, na minha mão…onde está agora?
Vasculho cada um dos bolsos e nada. Olho desanimado para o portão e imagino que tenha esquecido dentro de casa e lá vou eu mais uma vez, abro o portão, a porta da sala e procuro na mesinha de centro, na estante, no sofá…, mas onde está essa bendita (pra não soltar um palavrão) chave? Olho na mesa da cozinha, no armário, na pia e chego ao absurdo de olhar dentro da geladeira. Nada! Corro para o quarto e o ritual de procura é o mesmo…em cima do criado mudo, na cama, na mesa do computador, até no chão e nada.
Desesperado e completamente atrasado, decido pegar a chave reserva, mas…mas, onde costumo guardá-la mesmo? Olho em volta, meio perdido e falo para mim mesmo.
— Ah, sim, no criado mudo.
Abro a pequena gaveta, tiro umas doze coisas e encontro a caixinha onde costumo guardar e lá está a danada. Pego a chave e saio correndo. Tranco o portão, me surpreendo com a porta do carro destrancada e lá está a chave original, bonitinha e quietinha, na ignição. Apesar de atrasado fiquei alguns segundos olhando para ela sem saber o que fazer, se devia xingar a danada ou não.
Decidi que não e liguei o carro, mas espera. Saí correndo e não fechei a porta da sala, tenho certeza. Respiro profundamente tentando me acalmar e lá vou verificar a porta que estava realmente aberta. Fecho a porta, fecho portão, entro no carro e saio. Olho no relógio 8h15. Meu Deus, trinta minutos perdidos naquela confusão e um atraso enorme no trabalho. Tento sorrir para mim mesmo e me acalmar para evitar que aquilo se torne uma bola de neve e comprometa todo o meu dia.
Termino a rua de casa e surge a dúvida, apaguei a luz do quarto? Ah, chega! Agora vou assim mesmo. Se tiver acesa, que se dane. Ligo o som do carro e sigo assobiando a música.
Afinal, acho que é só a idade.
Cadê minha memória
fev 27, 2020RedaçãoCrônicas e Contos do EscritorComentários desativados em Cadê minha memóriaLike
Previous PostColuna Espírita - Salvação ou evolução?
Next PostGoverno de SP cria Centro de Contingência do Coronavírus