A faceta urbana de Brasília e de outras cidades do Distrito Federal esconde um passado rico de história. Ou melhor, pré-história. Seres humanos perambulavam pela região coletando frutos, cultivando plantas, pescando e caçando animais com lâminas de pedra lascada. O DF possui 51 sítios arqueológicos registrados, com datação de até 11 mil anos atrás.
O trabalho arqueológico desses locais é acompanhado de perto pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC). As peças coletadas estão associadas a grupos pré-históricos que habitavam o Planalto Central há milhares de anos, durante uma sequência arqueológica conhecida como Tradição Itaparica, que ocorreu entre 11 mil e 6,5 mil anos atrás.
Desses locais, 26 são vinculados a grupos de caçadores-coletores, sete são classificados como sítios cerâmicos, um traz pinturas rupestres e 17 são sítios históricos. Eles estão localizados em diversas áreas no Distrito Federal, como Ceilândia, Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Brazlândia, Jardim Botânico, Santa Maria, São Sebastião, Riacho Fundo, Gama e Paranoá.
“Os sítios líticos estão datados entre 11 mil e 8 mil anos atrás e são vinculados aos grupos de caçadores e coletores. Há também os sítios de arte rupestre. Os sítios de agricultores e ceramistas estão presentes a partir do século VIII e os sítios históricos estão relacionados à chegada dos luso-brasileiros, a partir do século XVIII.”, explica Margareth Souza, arqueóloga do Iphan-DF.
Novo sítio
A última descoberta no Distrito Federal está em um condomínio de lotes na Região Administrativa do Paranoá. Durante a primeira fase de um trabalho de licenciamento ambiental, os técnicos do Iphan-DF observaram vestígios compostos por núcleos, lascas e instrumentos produzidos a partir do quartzito.
De restos de uma fogueira foi possível resgatar amostras de carvão, durante a escavação. Esse material foi enviado para um laboratório nos Estados Unidos, que fará a datação radiométrica. A técnica mede a radiação presente em elementos orgânicos e estima a idade de quando a fogueira e as ferramentas encontradas foram feitas.
As áreas de proteção do sítio arqueológico ainda estão sendo definidas, dentro de um espaço de 10 a 15 hectares. Porém, isso não inviabilizará o licenciamento ambiental do empreendimento. “O local, denominado Jardins Genebra, já recebeu as Licenças Prévia e de Instalação. A Licença de Operação será emitida com todas condicionantes atendidas. É possível sim compatibilizar as etapas do licenciamento ambiental com o empreendimento. Esse está sendo um exemplo de gestão do patrimônio arqueológico”, afirma Margareth.
Pré-história
Os caçadores e coletores do Planalto Central viviam em pequenos bandos e sobreviviam da caça, pesca e da coleta de frutos e plantas do Cerrado. Fabricavam instrumentos de pedra lascada de um modo específico, elaborados sobre lascas, lascões e lâminas. As primeiras populações humanas na região possuíam um sistema de subsistência e demoravam pouco tempo nos locais em que se assentavam.
Em consequência deste fato, suas estruturas habitacionais eram simples, feitas de madeira, fibras e folhas, assim como grande parte de seus instrumentos. O que torna possível achar os locais ocupados por essas populações é o que restou de sua cultura material feita com matéria prima durável, especialmente de origem mineral, como, por exemplo, objetos feitos de pedra.
Educação patrimonial
Alunos dos cursos de Biologia e Geologia da Universidade de Brasília (UnB) foram conhecer o sítio, acompanhados do arqueólogo Edilson Teixeira de Souza, responsável pela descoberta do sítio Jardins Genebra. A visita faz parte de um programa de educação patrimonial, uma das exigências do Iphan no processo de licenciamento ambiental.
Os estudantes aprenderam o que é arqueologia, como ela é estudada, o que encontraram no sítio e como são os procedimentos de metodologia e escavação. Ainda nesta frente de atuação, o projeto de pesquisa prevê uma capacitação com os trabalhadores do empreendimento para que os operários entendam o trabalho e possam ajudar a identificar novos achados.
Quando a pesquisa for encerrada, o relatório do arqueólogo responsável pelo trabalho de campo será encaminhado à Superintendência do Iphan no Distrito Federal para análise e manifestação conclusiva. As peças encontradas ficarão no Museu de Geociência do Instituto de Geociências da UnB, que é a instituição de guarda e endosso institucional de achados arqueológicos no Distrito Federal.