O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) tem acompanhado com atenção, desde 2017, a publicação dos dados levantados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) sobre o registro de casos de desaparecimento de pessoas, tendo em vista que a situação das pessoas desaparecidas e de suas famílias é uma das suas prioridades no Brasil.
De acordo com o 13° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, lançado ontem, terça-feira, dia 10, 82.094 pessoas foram registradas como desaparecidas no país em 2018. O levantamento acrescenta que os números do ano passado ficaram próximos aos de 2017, quando 83.701 casos foram notificados.
“Os familiares de pessoas desaparecidas têm o direito de saber o destino e o paradeiro de seus entes queridos”, afirma a chefe da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Simone Casabianca-Aeschlimann. “Eles enfrentam um vasto número de dificuldades decorrentes do desaparecimento, como as necessidades psicossociais, econômicas, jurídicas, administrativas, entre outras.”
Na avaliação do CICV, é fundamental responder à questão de pessoas desaparecidas a partir das experiências das famílias e com a participação delas. “Se elas forem colocadas no centro, os esforços estarão na direção certa”, afirma Marianne Pecassou, coordenadora de Proteção da Delegação Regional do CICV.
Os mesmos estados que mais notificaram desaparecimentos em 2017 aparecem no topo da lista em 2018, correspondendo a mais da metade do total de registros do Brasil. São eles: São Paulo (24.366), Rio Grande do Sul (9.090), Minas Gerais (8.594), Paraná (6.952) e Rio de Janeiro (4.619).
“O levantamento de dados de pessoas registradas como desaparecidas é importante, mas temos que observar que ele não leva em consideração quantas dessas pessoas foram encontradas e também não estima a quantidade de subnotificações, isto é, aqueles casos em que os familiares, por alguma razão, não comunicaram o desaparecimento à polícia”, pondera Marianne Pecassou.
No Brasil, o CICV tem se colocado à disposição das autoridades no âmbito federal e também nos estados de São Paulo e do Ceará, para apoiá-las nas respostas a este problema humanitário. Desde 2014, a organização trabalha na avaliação das necessidades dos familiares de desaparecidos, apresenta recomendações e apoio técnico às autoridades, além de desenvolver metodologias de atenção aos familiares que sejam apropriadas para a realidade brasileira.
Uma das famílias acompanhadas pelo CICV é a de Leonardo Campioto, de São Paulo, desaparecido desde 2007. “A minha vida parou, eu não fui mais em médico, minha família desabou. Aí me dão remédio para dormir, mas eu não durmo, 3 horas da manhã eu estou acordada. É uma experiência terrível, são 24 horas pensando nele”, relata a mãe de Leonardo, Dalva.
Para dar mais visibilidade ao tema, o CICV lançou neste ano a mostra imersiva “A falta que você faz”, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza (CE), com instalação de fotos e vídeos nos quais familiares contam suas experiências convivendo com a ausência de um ente querido (mais sobre a mostra aqui). A mostra havia sido apresentada em Brasília em 2017 e em São Paulo em 2018. Em julho, a organização também lançou uma campanha regional, na qual destacou a problemática de desaparecimento de pessoas na América Latina.