Eis o sétimo passo na jornada pela colunata. Após a passagem pelo portal solar do meio-dia e o contato com o Grande Maestro no interior do graal, é chegada a hora de observar que a máscara que existia em sua estrutura psíquica acabou de se desprender.
Seguindo a trilha sensível dos mercurianos, o símbolo do martírio por esfolamento, aqui, nos remete ao reconhecimento da existência de um Eu Idealizado. Esta é a autoimagem que criamos e mostramos ao mundo para sermos aceitos. Acreditar que somos esta estrutura é mergulhar no autoengano e seguir uma vida sonambúlica.
Este é o momento para analisar como a máscara vai sendo construída neste conflito do mundo dual. Tristeza e felicidade, dor e prazer, aceitação e decepção, enfim, sensações e emoções que irão conduzir a estruturação desta defesa que o ser humano veste para sair ao mundo.
Com a faca na mão esquerda, o entendimento de que participamos de um mundo onde somos influenciados e influenciamos, Bartolomeu assume não apenas o instrumento da sua esfolação. O ser real que surge agora percebe-se como portador da necessidade de agir em compaixão pelo estado de violência da humanidade e semear um novo caminho no despertar do amor em seu coração.
Não é um se apossar da faca para reagir, mas sim um ato de não-violência em que a reação não avança em uma contra-resposta de mesmo porte. A continuidade do ato violento, revolta ou expressão da ira é completamente anulado pela presença da compaixão e entendimento da trajetória humana que culminou no dado momento.
Bartolomeu está despido da máscara. Seu eu real está exposto e a verdade se faz plena em um caminho sem volta. O sentimento de amor ao próximo já está latente e a jornada onde se pergunta “Quem sou eu?” vai fazendo um sentido mais profundo e transformador.
O leitor e buscador nesta jornada não deve se iludir. Haverá dor nesta caminhada. Confrontar territórios internos exige coragem, confiança em Deus e entrega ao propósito na busca pela verdade. O ego se esconde atrás da dor. Ainda estamos no sétimo passo. É hora de abandonarmos nossas máscaras, despirmo-nos destas ilusões e jogos para sermos aceitos.
É o momento de uma reflexão profunda, pois uma vez despido da máscara, o que surgirá no próximo passo é a águia de João e o dragão da sombra que Felipe deverá confrontar.
Por Cláudio Mariotto – Terapeuta