Pé na cova: bares da vida
Os saudosistas, certamente, devem se lembrar do Ademir, apelidado de “Pé na Cova” . Ele era um personagem popular e gostava de contar histórias nas reuniões e bares da vida, e as pessoas se divertiam com seus causos.
Ele é um dos personagens da primeira história do livro de minha autoria “Parece Mentira, mas não é”, que conta um fato que ocorreu no dia do enterro do Antônio Atanásio, vulgo Satanás.
Para o velório de Satanás, os amigos dele se prontificaram em avisar todas as pessoas que tinham apreço por ele. Foi incumbido de avisar o Padre Pedro para que encomendasse o corpo do amigo Ademir “ Pé na Cova”.
Naquela época, o diácono morava no seminário Santo Antônio, hoje IDESA. Já era tarde da noite e o Padre já estava dormindo, e foi um frei capuchinho que por uma fresta da porta atendeu o enviado, e já foi perguntando qual era o assunto.
___Preciso falar com Padre Pedro !
___Ele já se recolheu no seu aposento. Respondeu o frei, que logo indagou se o assunto era de vida ou morte.
Tornou o Pé:
__ Sim ,é sim!
__Pois diga, então que darei o recado a ele. Retrucou o capuchinho querendo dar logo fim àquela agonia.
E, em bom tom disse o enviado:
___Avisa o Padre Pedro que o Satanás morreu, e quem está falando é o Pé na Cova.
O frei capuchinho entrou em pânico e saiu correndo , pensando se tratar de uma pegadinha. Conta à lenda que o frei nunca mais foi visto por aquelas bandas
O VIAJANTE
“Pé na Cova” é um personagem que nos deixou saudades e também histórias. Possuidor de grande presença de espírito e de provérbios inteligentes, o saudoso Ademir “Pé na cova” estava sempre nos encontros do bloco “Vai Quem Quer”, sendo muito querido por todos.
Quando ele se aproximava de alguém que se dizia esperto, entrava na conversa, com aquelas frases memoráveis:
-Você já viu cabeça de bacalhau? Já viu santo de óculos? Já viu alguém carregar foto da sogra na carteira? Já viu enterro de anão? Viu filho de meretriz se chamar Júnior? Se não viu, não está com nada, que malandro você diz que é?
“Pé na Cova” vendia remédios para laboratórios farmacêuticos, profissão que exigia que estivesse frequentemente viajando.
Comenta-se que ele dava remédios de verminoses para crianças em amostras grátis. Um fato interessante ocorreu, quando um homem muito simples de São Luiz do Paraitinga pediu a ele que lhe desse um remédio para vermes.
Passaram-se dois meses e aquele pobre homem apareceu na Cantina Taubaté, na Rua Doutor Silva Barros, procurando pelo Ademir. Ninguém sabia quem era Ademir, até que alguém deduziu que poderia ser o “Pé da Cova”. Deram-lhe o endereço.
Ao chegar à residência, aquele homem esperou um bom tempo para ser atendido, pois Ademir estava organizando o balancete das vendas. Ainda com os papéis nas mãos foi atendê-lo.
— O senhor não está me reconhecendo? Eu sou aquele homem que o senhor deu remédio para verminose em São Luiz. Agora estou querendo fazer um regime para perder uns quilinhos. O que o senhor pode me receitar
Usando sua célebre filosofia, Ademir perguntou-lhe:
_O senhor já ouviu falar em caviar?
— Não! Respondeu o pobre homem.
— O senhor já comeu camarão rosa?
— Também não! Emendou o matuto.
— Pois não coma nada disso! Champanhe francês, então nem pensar! Filé a cavalo, passe longe! Desta forma, com certeza, você vai perder uns bons quilos.
O matuto, então, pediu-lhe humildemente:
— Dá p´ro senhor escrever num papel essa nova receita?