As literaturas africanas de língua portuguesa consolidaram-se em meio às lutas pela independência, como forma de resistência às pressões do colonialismo. Isso explica a predominância de verdadeiros cantos armados de combate e afirmação da nacionalidade sobretudo no repertório produzido a partir dos anos 50. Essa ligação tão forte entre a atividade literária e o processo histórico de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe não impediu, contudo, que a dimensão estética fosse uma preocupação de grande parte de seus escritores. Apenas algumas décadas depois da independência, a qualidade da escrita e a importância que teve a literatura na conquista da independência acabam por nos surpreender.
O leitor brasileiro é ainda surpreendido com o diálogo cultivado pelos autores africanos de língua portuguesa com o modernismo brasileiro, sobretudo entre os anos 40 e 70. ) contato principalmente com a produção de Angola, Cabo Verde e Moçambique leva-nos a acreditar que algumas propostas do Movimento de 22 repercutiram muito positivamente na escrita dos autores africanos. A partir da leitura das obras, ou mesmo de uma conversa com muitos dos autores que escreveram nesse período, ficamos a saber do importante papel desempenhado por Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Manuel bandeira e Carlos Drummond de Andrade, para ficarmos apenas com alguns cujos livros eram esperados com grande ansiedade nos anos 50 em cidades como Luanda e Lourenço Marques, hoje Maputo.
Ainda que não tivessem lido o texto da famosa conferência intitulada O movimento modernista , os escritores africanos estavam certos de que o direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira e a estabilização de uma consciência criadora nacional, princípios identificados por Mário de Andrade como fundamentais, adequavam-se muito bem ao momento que viviam e aos projetos literários que estavam interessados em desenvolver.
