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sábado 21 setembro 2024
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As ideias inatas e a educação das crianças

• Marcus De Mario – Instituto Brasileiro de Educação Moral-IBEM/RJ
Um tema que deve preocupar a educação é o das ideias inatas, pois é comum veri¬ficarmos crianças dotadas de conhecimentos e personalidade que demonstram desde o berço, sem que qualquer processo educativo tenha exercido influência. De onde tirou aquela resposta sagaz e correta? Como pode ter pendor para isso ou aquilo? E não estamos falando das chamadas crianças superdotadas, pois todos os pais têm histórias para contar quanto às vivas demonstrações precoces dos seus ¬ filhos, que, inclusive, muitas vezes contrariam totalmente o conhecimento e a personalidade dos pais.
Pré-existência
É verdade que o pensamento educacional vigente, por ser materialista, passando longe da alma, não admite a ideia inata, mas, sem fazermos aqui uma longa discussão, tomemos a ideia inata como uma probabilidade, uma possibilidade teórica. Não admitindo-se a alma como causa desse pré-conhecimento e conduta já estabelecida, temos ainda assim extraordinário fenômeno a ser estudado. Onde as estruturas neuro-cognitivas que explicam semelhante fenômeno? Como o estudo do psiquismo humano pode dar luz a um fato repetido diariamente no seio das famílias?
É sobre esse assunto que Allan Kardec dedica suas perguntas aos Espíritos Superiores nas questões 218 a 220 de O Livro dos Espíritos, já em sua época contrariando o pensamento vigente sobre o homem, e abrindo as portas, e com muito mais profundidade, sobre a psicogênese da criança. Vejamos o desdobramento do estudo a partir da questão 218:
O Espírito encarnado conserva algum traço das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores?
– Resta-lhe uma vaga lembrança, que lhe dá o que chamamos ideias inatas.
A lei de evolução é um princípio básico do Espiritismo, onde o Espírito, ora na erraticidade (mundo espiritual), ora na encarnação (mundo material), vai acumulando aprendizados, experiências, saberes, desenvolvendo virtudes e senso moral, nada perdendo, apenas utilizando mais essa ou aquela área, essa ou aquela tendência nas variadas existências materiais (reencarnatórias), conforme suas necessidades e do meio social em que irá viver.
Tendências de caráter e saberes já estão com o espírito, que vai demonstrando isso na medida em que domina o corpo biológico em desenvolvimento. Mas, como alertam os benfeitores espirituais, isso se dá de forma parcial, como uma vaga lembrança que vai aflorando pouco a pouco, até um certo limite traçado pela lei divina, para que o espírito possa desenvolver sua personalidade atual e não ter essas lembranças como uma pedra de tropeço.
Uma grave questão educacional se nos depara. Sem levar em conta as ideias inatas, muitos pais tolhem os ¬ filhos em sua criatividade, em suas tendências, provocando quadros agudos de frustração, de depressão, de isolamento social. Igualmente muitos professores não se apercebem dessa realidade, e teimam em enquadrar o aluno em padrões comportamentais e de aquisição do conhecimento que não condizem com a índole e com as experiências passadas que essa alma traz consigo. Quantos entraves educacionais seriam resolvidos com o estabelecimento da verdade das ideias inatas.
Ideias Inatas
Continuando o desdobramento desse assunto, indaga Kardec na questão 208a:
A teoria das ideias inatas não é quimérica?
– Não, pois os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem; o Espírito, liberto da matéria, sempre se recorda. Durante a encarnação, pode esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que lhe ¬ fica ajuda o seu adiantamento. Sem isso, ele sempre teria de recomeçar. A cada nova existência, o Espírito toma como ponto de partida aquele em que se achava na precedente.
Aqui temos uma informação importante. Quando é dito “o Espírito, liberto da matéria”, temos a realidade transcendente da alma, que ocorre através do estado de sua emancipação através do sono, fenômeno também conhecido como desdobramento; e também ocorre durante o transe hipnótico; igualmente através da meditação, quando alcançamos o estado alterado da mente. Sempre que nos desligamos parcialmente do corpo físico abrimos as portas do subconsciente, onde está armazenada a memória espiritual, e podemos então desfrutar de lembranças, de conhecimentos que ¬ ficam adormecidos no estado de vigília, ou, se quisermos, no estado consciente normal do dia a dia.
A cada encarnação, assumindo nova personalidade em novo corpo e nova situação social, o espírito não está fazendo um novo começo, e sim dando continuidade ao seu progresso, de acordo com o que fez e aprendeu na última existência, que pode sofrer mudança durante sua estada no mundo espiritual, no estado de erraticidade, aguardando a nova encarnação.
É o que está muito claro na questão 208b:
Deve então haver uma grande conexão entre duas existências sucessivas.
– Nem sempre tão grande como podias pensar, porque as posições são quase sempre muito diferentes, e no intervalo de ambas o Espírito pôde progredir.
Temos então dois fatores:
1. A cada encarnação o espírito troca de posição social, de personalidade, de experiência vivencial.
2. Entre uma encarnação e outra o espírito também progride ao passar por aprendizados e experiências no mundo espiritual.
O progresso é incessante, e pais e professores devem utilizar a educação para permitir que ¬ filhos e alunos continuem seu progresso através dos diversos aprendizados, que devem ir além do ensino teórico, pois a melhor prática pedagógica é aquela que permite ao ser em desenvolvimento pensar e praticar, adquirindo senso crítico e tendo espaço para experimentar, para colocar sua criatividade em ação.