Embora tenha vivido uma prolongada guerra, Angola oferece um repertório pródigo no campo da literatura. Desde os anos 40, os angolanos reconheciam a importância da vida literária como contraponto ao quadro opressivo em que viviam. O papel dos escritores no movimento que levaria à independência foi tão significativo que nos primeiros anos o país era identificado como a República dos Poetas. O próprio presidente Agostinho Neto era conhecido como escritor,assim como António Jacinto, Viriato da Cruz e Mário de Andrade, nomes que estão na origem do Movimento Popular de Libertação de Angola.
Além da criação, a reflexão sobre ela tem sido uma constante. Em um seminário sobre cultura realizada em Luanda, no ano de 1987, o poeta Ruy Duarte de Carvalho formula uma boa síntese acerca dos desafios que se colocam ao escritor angolano: “(…) por um lado, a necessidade de adequação à gramática das relações universais , por outro, uma valorização também necessária dos valores de raiz indispensáveis à evidência de uma identidade dotada de uma profundidade histórica e conceptual.
Em resposta a tais urgências, ele próprio faz de sua poesia um lugar de cruzamento das matrizes da tradição oral, que a sua formação de antropólogo permite conhecer bem, com a metalinguagem com que opera o questionamento da própria literatura. Em Ondula, savana branca, publicado em 1989, os textos estão organizados segundo uma divisão tripartite – “Versões”, “Derivações” e “Reconversões” -, indicando as várias operações que o poeta realiza a partir do material da oralidade de povos africanos, oferecendo-nos um mapa da poesia africana em sua diversidade, ao mesmo tempo em que aponta para as constantes que a oralidade banto carrega.
Angola e a Literatura
maio 17, 2019Bruno FonsecaLiteratura em gotasComentários desativados em Angola e a LiteraturaLike