• José Passini – Juiz de Fora/MG
Há pessoas que, depois de tomarem conhecimento de que já viveram na Terra noutros tempos, passam a desejar saber o que foram, em que país viveram, que cargos ocuparam, e outras preo-cupações pueris.
Na Doutrina Espírita não são encontrados ensinamentos que nos levem a tomar atitudes como essa. Pelo contrário, há orientações de Espíritos Superiores no sentido de não nos preocuparmos com o que fomos:” Havendo Deus entendido lançar um véu sobre o passado, é que nisso há vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes.” O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 5, item 11.
O passado é morto, não podemos modificá-lo. Importa-nos, sim, observarmos como estamos nos conduzindo na presente experiência física. Inegavelmente, a vida presente é muito mais dinâmi-ca e nos oferece muito mais oportunidades de ação, tanto no Bem quanto no Mal.
Entretanto, existem meios de saciarmos essa curiosidade sobre outras encarnações. Há meios seguros que nos possibilitam a formação de ideias do que fomos no passado, fazendo uma análise honesta e profunda dos nossos pensamentos, interesses e ações no presente. Se temos muito amor ao dinheiro, ao luxo e às posições de destaque, certamente não teremos sido humildes servidores do Evangelho, pois ninguém regride. Quem ainda hoje precisa esforçar-se para devolver um troco a maior que recebeu, não pode ter sido alguém cujo comportamento primou pela lisura, pela honestidade. Quem se irrita com certa facilidade e reage com violência ainda hoje, não pode ter sido um exemplo de mansidão. Se revistas e filmes portadores de mensagens sensuais ainda constituem atrativos, é sinal que existe grande campo interior a ser trabalhado, pois não o foi noutras encarnações.
Observando-nos interiormente, podemos ver que a encarnação presente nos oferece grandes oportunidades de progresso espiritual. A vida, em tempos passados, era muito menos dinâmica que a de hoje. Os meios de comunicação aumentaram espantosamente tanto em quantidade quanto em diversidade. Pela televisão e pela internet temos atualmente possibilidade de entrar em contato com os mais variados programas, que podem nos conduzir tanto a atitudes sublimes quanto a outras re-prováveis. Hoje, somos levados a decidir entre atitudes enobrecedoras ou degradantes com muito mais frequência do que no passado. A vida está cada vez mais dinâmica. O mesmo televisor que apresenta belíssimos programas religiosos pode nos apresentar outros a exibirem violência de toda espécie, personagens principais de caráter duvidoso, ou demonstrações de sexo desequilibrado.
Seria oportuno nos perguntássemos como nos sentiríamos se, subitamente, aparecesse um Espírito Superior ao nosso lado, quando estamos assistindo a algumas dessas novelas, ou algum desses filmes violentos, sensuais, desequilibrantes que são comumente exibidos, até mesmo para crianças.
Até o futebol, prática tão prazerosa, pode ser palco de violência e brutalidade sem limites por falta de uma verdadeira educação ética e religiosa, pois as sublimes lições de O Sermão da Montanha ainda estão – para algumas religiões – aprisionadas nos templos religiosos.
Entretanto, estamos vivendo uma época de aferição de valores. Todos estamos sendo testa-dos a fim de demonstrarmos realmente o que queremos da vida, o valor que atribuímos à religião que dizemos seguir. O nosso livre arbítrio parece ter-se dilatado e urge nos lembremos de Paulo: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm.” (I Co, 10: 23).
Mas, afinal, vivemos num país que se diz cristão. Será que o Cristianismo é para ser viven-ciado apenas no interior das comunidades religiosas? Será que se deveriam isolar do mundo aqueles que não desejam compactuar com esse estado de coisas, ou lutar para que o mundo se torne compa-tível com os ensinamentos do Cristo? Se aqueles desejosos de manter uma vida equilibrada, respei-tosa pretenderem afastar-se do convívio com a sociedade, como interpretariam a recomendação de Jesus, registrada por dois evangelistas: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos (…)” (Mt, 10: 16) e “Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos.” (Lc, 10: 3)?
Diante da recomendação de Jesus, não devemos pretender criar ilhas onde possamos viver cristãmente, ou esperar nosso regresso ao Mundo Espiritual para procedermos a uma reforma íntima. Devemos sim, trabalhar aqui e agora no sentido de convivermos com os ensinamentos e práticas do Evangelho e agirmos buscando cristianizar todos os lugares. Embora existam para o Espírito duas situações, ou seja, a condição de encarnado e de desencarnado, em verdade a realidade eterna é uma só.