• Marcus De Mario – Instituto Brasileiro de Educação Moral-IBEM/RJ
Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em novembro de 2017, ouvindo 2.765 brasileiros em 192 municípios, revela que 57% dos brasileiros apoiam a aplicação da pena de morte no país, embora essa pena máxima não seja permitida pela legislação brasileira, com a única exceção em estado de guerra declarada. Pesquisa anterior, realizada no ano de 2008, mostrou resultado de 47% da população apoiando a pena de morte, ou seja, em nove anos, houve um crescimento de 10%. Perguntamos: o que leva os brasileiros a querer aderir a esse instrumento? E será que a aplicação da pena de morte é solução para os males que enfrentamos em nossa sociedade?
Estendendo o olhar sobre os acontecimentos que enlutam nossa sociedade nos últimos anos, ou seja, escândalos de corrupção entre autoridades públicas e grandes empresários, aumento da criminalidade, violência urbana em crescimento, crise econômica, desemprego em alta, compreendemos que, diante de tantos escândalos e dificuldades de uma vida em paz, as pessoas pensem em utilizar a pena de morte como um remédio eficaz, uma solução, retirando da sociedade, em definitivo, os maus elementos que a conturbam. Se o pensamento sobre essa questão tem por base o materialismo, a pena de morte parece ser um bom caminho, entretanto, e sem entrarmos na visão espiritualista da vida, por que um criminoso irá se intimidar, se acredita que tanto faz morrer daqui a pouco em ação, ou se depois, condenado pela justiça? Ele não acredita numa vida após a morte, nem acredita na sociedade em que vive, então, por que a pena de morte irá intimidá-lo? E lembremos que para cada criminoso levado morto pelos agentes de segurança pública, temos um punhado de jovens, igualmente materialistas e ateístas, prontos para tomar seu lugar. É por essa razão que os esforços em segurança pública não dão o resultado almejado, pois eles têm que ser secundados por esforços na urbanização, na saúde, na educação, na melhor distribuição da riqueza.
Nenhum país, em nenhuma época da humanidade, conseguiu baixar os índices de violência e criminalidade com a aplicação da pena de morte. E com o agravante, e aí estão os fatos para confirmar, de muitas pessoas terem sido levadas à morte quando eram inocentes, como provado foi após o veredito ter sido executado. E aplicando a pena de morte, não estaríamos nos igualando àqueles que condenamos? Em vez de julgamentos decisivos, não deveríamos dar oportunidade para a reeducação e ressocialização? Gostaríamos que um filho nosso, preso por ter cometido algum crime, fosse inapelavelmente condenado à pena de morte?
Façamos agora reflexões do ponto de vista espiritualista sobre a vida, utilizando os princípios que compõem o Espiritismo. Com a imortalidade da alma e sua continuidade existencial após a morte do corpo físico, tudo muda de figura, ainda mais quando associamos a imortalidade da alma com a reencarnação, que existe para dar nova oportunidade ao espírito de continuar seu progresso intelectual e moral, rumo à perfeição. Portanto, estar vivo aqui em nosso planeta é dádiva divina, e somente Deus pode dispor da vida, ou seja, condenar alguém à morte é querer assumir o lugar do Pai e Criador, isso sem termos a sabedoria, o amor, a misericórdia e a justiça plena que somente Ele possui. E, ainda, temos que reconhecer que se alguém, condenado à pena de morte, morre, ou melhor, desencarna numa situação de ódio, revolta, mágoa contra a sociedade humana que não lhe deu oportunidade de uma vida melhor, quando se encontrar de volta ao mundo espiritual e tomar consciência que a vida continua, poderá se transformar num obsessor, ou mesmo num mandatário de alguma legião de espíritos obsessores. Como podemos ver, as consequências não são boas, pelo contrário, razão pela qual podemos afirmar que a pena de morte não é solução.
Segundo os Espíritos Superiores, na questão 760 de O Livro dos Espíritos, a abolição da pena de morte é um avanço da civilização humana, então adotá-la agora representa um retrocesso, pois violência não deve ser combatida com outra violência, no entendimento do ensino de Jesus Cristo, quando nos pede para oferecer a outra face diante do mal, ou seja, que devemos retribuir o mal com o bem, pois somente o amor fará com que nos entendamos, assim levando a sociedade para uma nova etapa de progresso moral, quando o amor, a caridade, a fraternidade, a solidariedade estabelecerão justiça social, paz e felicidade.
Para nossa profunda reflexão, ouçamos o benfeitor espiritual Emmanuel, através da psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, em mensagem publicada no livro Religião dos Espíritos:
“Cristãos de todas as interpretações do Evangelho e de todos os quadrantes do mundo, atentos à exemplificação do Eterno Benfeitor, apartai o criminoso do crime, como aprendestes a separar o enfermo da enfermidade! Educai o irmão transviado, quanto curais o companheiro doente! Desterrai, em definitivo, a espada e o cutelo, o garrote e a forca, a guilhotina e o fuzil, a cadeira elétrica e a câmara de gás dos quadros de vossa penologia, e oremos, todos juntos, suplicando a Deus nos inspire paciência e misericórdia, uns para com os outros, porque, ainda hoje, em todos os nossos julgamentos, será possível ouvir, no ádito da consciência, o aviso celestial do nosso Divino Mestre, condenado à morte sem culpa: Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra!”.
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/01/1948659-apoio-a-pena-de-morte-bate-recorde-entre-brasileiros-aponta-o-datafolha.shtml
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Ide: Araras, 2009.
A solução não está na pena de morte
out 11, 2019Bruno FonsecaColuna Espírita (Agê)Comentários desativados em A solução não está na pena de morteLike
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