Precisamos de infinito, nem que seja de um fragmento de infinito. A história humana é também a história da procura da beleza. Jesus, quando desafiou os discípulos a olharem os lírios do campo, mostrou isso bem.
O infinito, a arte , a literatura entre outras são alfabetos de Deus. A procura da beleza continua na contemporaneidade, com novas linguagens, formas, gramáticas. É a mesma fome a inquietar o coração humano.
É sempre um desafio reforçar o diálogo com as artes, o pensamento e a cultura contemporânea. Devemos sempre inscrever-nos no presente, de uma forma serena e criativa.
A literatura outra coisa não é do que uma fantástica concha acústica, onde se pode reencontrar a interminável conversa que os seres humanos mantêm.
A alma humana tem sede do infinito, da beleza. Vivemos numa época de almas em aridez. Na maior parte dos casos nem sequer as pessoas percebem tal situação, pois sufocam através de estratégias infinitas para evitar todo o contato com esse fogo obscuro que se eleva do vazio interior.
Escutar essa sede é fundamental, descobrir-se mendigo, sempre na ausência de qualquer coisa de irrenunciável que escapa, exortando a ir além, ajuda a superar toda forma de possessão para pessoas e coisas. Afasta da ganância do poder, cura as distorções psíquicas, orienta para o desejo puro.
É preciso sair do emaranhado da rotina, deixar-se surpreender. A sede é uma dor que descobrimos pouco a pouco dentro de nós, por trás dos nossas habituais narrações defensivas, assépticas ou idealizadas.
A aridez da alma é sintoma de distanciamento da fonte, de alienação que erradica do sentido real da vida, estimulando desejos e necessidades induzidas que, no entanto, não conseguem preencher a distância que nos separa de nós mesmos, atirando o ser humano, para os braços do consumismo.
A experiência da sede apela a uma maturidade de fé que torne possível uma relação autêntica consigo próprio e lance as bases de uma relação genuína com Deus. Precisamos olhar-nos na nossa inteireza, não temer, não negar, mas abraçá-la com maturidade, lucidez e confiança porque é assim que Deus nos olha.
O caminho de fé requer transformação, crescimento humano, que não acontece se se impermeabiliza a vida na sua crosta,mantendo unicamente uma gestão funcional e eficaz da superfície.
A sede que e oculta no coração é por isso sede de infinito, exigência de imersão nessa realidade íntima, e por isso, enquanto desejo ilimitado, é uma sede infinita, insaciável.
A sede de infinito
fev 02, 2019Bruno FonsecaFé e RazãoComentários desativados em A sede de infinitoLike