O pessoal da república da Língua grande estava reunido, em Assembleia geral, no mesmo banco da Praça D. Epaminondas.
O assunto ou ordem do dia, escolhido pelo seu presidente Hélio Morotti, dizia respeitar ao que Pedro Álvares Cabral, nos 13 dias que passara no Brasil, por ocasião do “descobrimento”, desviara dos cofres indígenas. Nos chamados documentos históricos, o descobridor desviou cinco mil árvores de pau brasil, para serem levadas à Corte Portuguesa e transformados em tinta. D. Manoel adorava roupas coloridas e amava de paixão o Pau Brasil.
Cabral, nas palavras do índio Trepaná, andou de um lado para o outro, feito um alucinado, pelo chão da terra “achada” por ele, lançando as mãos cheias de dedos, em tudo que podia: papagaios, canários, pintassilgos, curiós, pardais, pombos, pedras coloridas, jabuticabas, para jogarem bolinhas de gude, no convés do navio; pensando em agradar a tripulação, o reino, as cortes europeias, levou índias bonitas, gostosas como o fruto do caju; levou índios sarados, robustos, fortes, bem documentados pelos pajés.
O navio partiu com destino às Índias que, na verdade, era o roteiro, o destino, e o local original da viagem de Cabral. Um saque planejado.
O tempo não perdoa ser vivente, natureza, poder, juízes, políticos, ditadores, tarados, estupradores, ladrões formados em universidades, que mantém cursos por correspondência; o tempo apenas passa.
O relógio do Brasil levou Cabral e trouxe um tal de Temer. Passados dois turnos da reunião da Assembleia da Língua Grande, surgiu o espírito do Visconde de Sabugosa. Muito gentil, educadíssimo; sugeriu à república de Taubaté, que escolhesse três republicanos da Língua Grande, para acompanhar a viagem de Temer à China, e a alguns recantos nobres do Brasil. Os três viajantes, na opinião do Visconde, deveriam ser eleitos, por voto aberto; logo, confirmados por todos. A eleição durou meia hora; sem briga, discussão, cara feia ou azeda. Os eleitos, fenômeno meio profético, foram: Hélio Morotti, Pedrinho engraxate, Frederico testa. Os três eleitos aceitaram a missão colocando, em contrapartida, uma exigência. Hélio Morotti impôs 20 latas de nescau; Pedrinho, nada pediu, só queria levar sua garrafa térmica de café; Frederico Testa demandou, por escrito, autorização para negociar com o presidente da China, o alargamento das ruas de Taubaté.
Tudo pronto, acertado, arrumado; o Visconde de Sabugosa espalhou sobre as três cabeças, boas colheradas do pó de Pirlimpimpim. Entre a velocidade da luz e da sombra, os três foram jogados no avião presidencial, lotado; a comitiva usou até a cabine do piloto. Hélio, meio aturdido, fez um comentário: “ – Temer, de preto, é mais enrugado do que pele de porco de feijoada…” Pedrinho, um sábio explicou: – “Uso excessivo de viagra… quer ferrar mais de 200 milhões de brasileiros”. Testa, o mais contido, observou o famoso bigode de Romero Jucá, que segundo o próprio senador, tira o sono de Janot, transformando-o em pulsão, no sentido freudismo, nos sonhos do Procurador da Justiça.
Na China, país totalmente impressionista, o presidente Xi Jinping recebeu o presidente brasileiro, usando todo o estoque de seriedade do povo, dos partidos, dos políticos chineses. O nosso presidente, dotado de uma grande inteligência fantástica, abriu o seu discurso dizendo: -“ A China, em relação ao mundo, “hegemonizou-se” em infinitos aspectos: economia, liderança política, militar, cultural e, porque não, em número de chineses. E o mais interessante, um parece-se com o outro, olhinhos fechados, cabelinhos brilhantinados, nomeados linearmente, chim, fun, piny…” Xi Jinping caiu da cadeira; os médicos chineses correram para atende-lo com prestreza.
O presidente tivera um pequeno desmaio. O desmaio não foi causado pelo discurso de Temer; não foi motivado por doença; o presidente vira a garrafa térmica de Pedrinho e o seu conteúdo.
O Visconde de Sabugosa, pressentindo as consequências, retirou o trio da China, transportando-os diretamente, para a Assembleia dos Deputados, em Brasília. Frederico Testa procurou Rodrigo Maia, não o encontrou. Porém, como dizia Platão, todo espelho tem duas faces, duas imagens, dependendo do ângulo do observador. Testa, preocupado, bateu de frente com um tal de André Fufuca, que estava presidindo a sessão da Assembleia. O deputado, além do nome, possui um rosto parecidíssimo com um queijo mineiro da Serra da Canastra; cabelo idêntico ao do Zé Mineiro, o homem que marcou a história do Mercado Municipal de Taubaté. O coração de Frederico Testa ameaçou pular dentro de seu peito; depois sossegou, bem lentamente, mas ainda assustado.
Hélio Morotti, com sua classe de pedagogo, tentou uma explicação. A palavra fufu representa, no norte, um doce com coco torrado, na panela de ferro. Pode também, em algumas regiões, representar choro, lágrimas, tristeza… mas André Fufucar pode significar o quê?
Pedrinho engraxate, na sua quietude explicou que Fufuca pode representar aquelas casas de luzes vermelhas, ao lado do asfalto das estradas longínquas. Visconde de Sabugosa, temeroso, meteu pó de pirlimpimpim nas cabeças dos três e, num passo de mágica, despenteados pela velocidade da luz, retornaram ao banco da Praça Dom Epaminondas. Era noite. A calma reinava no entorno da igreja Matriz. E nada, alguma coisa, ou alguém, tese provada, consegue ou conseguirá, entender o Brasil. Os três, nessa noite, dormiram no banco da praça.
Por Prof. Carlos Roberto Rodrigues
02/09/2017