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terça-feira 26 novembro 2024
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A Educação na formação do cidadão

Os maiores inimigos da democracia é a miséria e a ignorância. É fundamental formar cidadãos e para isso, não se inventou outra coisa que não seja a educação. Em nenhum país do mundo, os políticos não dão à educação a importância que ela tem.
A educação contemporânea foca essencialmente o aspecto instrumental , pretende formar bons profissionais para o mercado de trabalho, negligenciando a formação de bons cidadãos. Não deveríamos apenas formar trabalhador, que não importa o nível, vão seguir a rotina do país e não sabem debater os objetivos da vida em comum.
Não importa o poder econômico ou o papel desempenhado na sociedade, todos devem ser educados para exercer o seu papel de governante, de agente político.
Na Grécia, era preciso educar cidadãos, e não apenas ensinar habilidades profissionais, pois nenhum grego nascia com lugar determinado na escala social. A partir de sua formação cidadã, ocupariam um determinado cargo público ou desempenhariam certa atividade.
Eram formados para governar, uma vez que na democracia todos os cidadãos são governantes. Em Política, Aristóteles defende que, antes de ser governante, é preciso ter sido governado. Depois da formação cidadã, todos deveriam estar prontos para ocupar qualquer cargo.
A formação grega não descartava o lado técnico,mas tinha acima de tudo um caráter humanista, em que se discutiam os objetivos da sociedade.
O economista e filósofo John Kenneth Galbraith, dizia: “ Todas as democracias contemporâneas vivem sob o temor permanente da influência dos ignorantes”. Não se trata da ignorância acadêmica – todos nós ignoramos muitas coisas -, mas, sim, da ignorância de não ser capaz de entender um texto escrito.
Os ignorantes votam e decidem como os demais. Se eles são muito mais numerosos que as pessoas preparadas, educadas, encaminharão a vida social na direção da demagogia, vão colocar obstáculos às soluções necessárias sempre que implicam algum sacrifício, vão favorecer as desigualdades etc.
A ignorância da qual falava Galbraith é a da falta do imprescindível para a relação política com os outros, ou seja, de quem não é capaz de entender uma argumentação inteligível que alguém lhe faça sobre propostas, propósitos ou necessidades.
E uma vez que a democracia é baseada na capacidade dos cidadãos de persuadir e serem persuadidos, a falta de capacidade de expressão tende à violência. Ela é a reação dos que não sabem se expressar. Por isso, é preciso favorecer que todos tenham meios de expressão.
Como em uma democracia não sabemos qual é o lugar de cada um, cada pessoa precisa lutar para abrir caminhos e encontrar um lugar adequado à sua capacidade, criatividade ou ao que for. Portanto , é necessário educar as pessoas de uma maneira aberta, para a vida. Por isso, o destino da democracia está intimamente ligado ao da educação. Esta permite a verdadeira transformação, que não seja sangrenta ou com violência. Que os filhos dos excluídos , dos que de alguma maneira não tenham nível social, possam alcançar seu lugar na sociedade.
A educação luta contra essa fatalidade. Assim, os que lutam contra a miséria e a ignorância são os verdadeiros defensores da democracia e não aqueles que bombardeiam países ou invadem territórios. Os professores são os baluartes dessa luta.
Há três conjuntos de virtudes essenciais que se deve tentar transmitir na educação ética: coragem, generosidade e prudência. Coragem para poder viver, porque todos nós vivemos com o panorama da morte, das dificuldades, das ameaças. Generosidade para poder conviver. Conviver sempre exige, de alguma forma, ceder. A convivência com outros é sempre um pouco dolorosa, um pouco frustrante, pois nem sempre podemos fazer o que queremos.
E prudência para poder sobreviver, porque, evidentemente, a vida está cheia de armadilhas, dificuldades e riscos, Fazer o bem é, muitas vezes, arriscado.
Para que as funções intelectuais sejam desenvolvidas, a educação tem de ser de qualidade para todos. Não adianta termos a melhor educação para as elites e uma fast-food para a maior parte da população. O problema é que a boa educação para todos é cara. Os Estados estão cada vez mais negligentes nesse sentido porque é um enorme investimento, em longo prazo. Mas, se a boa educação é cara, a má educação é ainda mais cara.
Todos devemos ter consciência de que devemos educar os nossos concidadãos. Se não queremos educar, temos que suportar o que nos acontece quando essas pessoas não educadas irrompem na vida pública. E, hoje, a educação é especialmente importante.