“O seu automóvel tanto amor-próprio como gasolina”. “O automóvel tornou-se agora como um artigo de vestuário, sem o qual nos sentimos nus, incertos e incompletos”.
Juntei hoje duas afirmações de autores diferentes eu cruzei na leitura de um só ensaio. Ambas as declarações, apesar de terem origens diferentes, convergem para um único símbolo, típico da nossa civilização, o carro.
Quer o escritor e jornalista francês Pierre Daninos, quer o famoso investigador dos mass media Marshall Mcluhan delineam o aspecto mítico deste objeto grande sucesso na publicidade e que se tornou emblema do nosso tempo, além de componente decisivo para a economia e, infelizmente, também da degeneração ambiental.
Como sugere Daninos, ao automóvel muitos reservam um amor que muitas vezes não dedicam aos seus semelhantes. Basta apenas assistir ao ritual da manutenção da sua máquina, à histeria que os atinge quando dar um defeito, à mutação humana que se registra quando estão ao volante e se abandonam a furores homéricos dirigidos aos outros que atentam contra sua majestade.
O automóvel faz de tal maneira parte da vida de uma pessoa, que Mcluhan tem razão quando diz que ele é uma roupa sem a qual não se entra no mundo e não se tem segurança.
Tudo isto faz-nos compreender um elemento de ordem geral, o da dependência das coisas, que, se por um lado, é justo e real, por outro pode transformar-se em subordinação e em servidão, ao ponto de confundir a escala dos valores e a própria dignidade. Uma conseqüência, portanto, mais séria do que à primeira vista pode parecer.
A dependência das coisas materiais
mar 30, 2019Bruno FonsecaFé e RazãoComentários desativados em A dependência das coisas materiaisLike
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