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domingo 24 novembro 2024
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À beira mar

Meu impulso ao chegar no litoral é sempre arrancar o calçado e caminhar ao longo de toda praia, até o seu final, normalmente de pedras, muitas pedras. Andar ali, bem no limite, no encontro da água com a areia. Onde o mar encontra o continente.
É, para mim, uma explosão de sentidos e sentimentos. Primeiro visual: o mar azul contracenando com a areia branca, os rochedos e, do outro lado, a serra verde de mata nativa. Depois, o sentido tátil: o vento envolvendo todo o corpo e a água alcançando os pés, ora mais, ora menos. E tem sabor, quando uma leve gota da maresia chega até a boca… Doce sal do mar! Por fim, o bem estar leva a um profundo aspirar…respirar. E aí, o cheiro do mar nos envolve. Uma sensação incrível de liberdade, paz!
Uma paz sobre conflitos, sobre limites, onde há avanços e recuos. O movimento incessante das águas, por dias, meses e anos: marés altas e baixas. Praias que diminuem, para depois crescerem. Será que existe um vencedor nesta disputa por espaço? Dizem que o mar está subindo. E ele não desiste mesmo!
Essa imagem magnífica, que também traz tensões, pode ser associada aos relacionamentos humanos. Aprendi faz tempo e com o tempo: é “uma tentativa em comum”. Movimento, eterno ir e vir, ajustando nossos limites: até onde ir sem ferir, até onde ceder, sem deixar de ser. Nada fácil: naturezas, personalidades, e experiências diversas. Encontrando-se e revelando-se.
É tanta força de ambos os lados que, não raro, pode gerar admiração, afeto, paixão, amor. Tudo começa, se ampara no respeito. Ter a sensibilidade para reconhecer o “incontrolável” do outro, “como faz o velho pescador quando sabe que é a vez do mar”. Se não, é o caos! Vem a tempestade e arrasta tudo, faz novo curso, destrói e mata o belo sentimento que um dia existiu.
Também para uma boa convivência é indispensável respeitar as diferenças. Seja na vida real ou por meio de um aparelhinho que se carrega no bolso. Como disse o Papa Francisco, “a mística do respeito contra a cultura do insulto”. As redes sociais são novas fronteiras, beira mar. Estamos aprendendo ainda os seus limites. Mas já podemos avistar e saber que sem humildade, bondade e respeito, restarão só extremos: deserto ou mar revolto.
*Osvaldo Luiz Silva é jornalista, autor dos livros “Ternura de Deus” e “A vida é caminhar”, pela Editora Canção Nova, editor da Revista Canção Nova e Presidente da Academia Cachoeirense de Letras e Artes (ACLA), em Cachoeira Paulista (SP).