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quarta-feira 27 novembro 2024
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200 anos de história perdida – Risco de incêndio no Museu Nacional foi denunciado há 14 anos

Em entrevista a Agência Brasil, secretário estadual fez alerta

Há 14 anos, em 3 de novembro de 2004, o então secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo Wagner Victer denunciou, em entrevista à Agência Brasil, os riscos de que o Museu Nacional do Rio de Janeiro poderia vir a ser destruído por um incêndio. A conversa com a repórter Daisy Nascimento ocorreu após visita ao local.
Na ocasião, o secretário disse ter ficadoimpressionado com a situação das instalações elétricas do museu, em estado deplorável, em sua avaliação: “O museu vai pegar fogo: são fiações expostas, mal conservadas, alas com infiltrações, uma situação de total irresponsabilidade para com o patrimônio histórico”, denunciou então.

Hoje, ao falar novamente com a reportagem da Agência Brasil, ele relembrou a denúncia: “A constatação se deu quando visitei o museu acompanhado do meu filho Francisco, então com 2 pra 3 anos. Era óbvio o risco. Estava claro na época que os princípios básicos de prevenção não estavam colocados ali. Não havia um sistema interno de sprinkler, as fiações estavam expostas, insetos preservados em material inflamável – e isso tudo em um lugar que concentrava muito do patrimônio histórico nacional”, disse Victer que, atualmente é secretário de Educação do Estado.

Ele disse que se lembra bem das críticas que recebeu na época, depois da repercussão que teve a matéria. “Foi um depoimento contundente e que deu muita repercussão na época. Ganhou visibilidade exatamente por eu ser secretário. Mas eu dei um depoimento como cidadão e engenheiro e não como secretário, e fui criticado inclusive por pessoas do próprio Ministério da Cultura, mas era óbvio o risco”.

Problema antigo

Wagner Victer ressaltou hoje que os problemas enfrentados não só pelo Museu Nacional, mas por muitos outros espalhados pelo estado, não vem de hoje, nem do governo atual.
“Este é um problema que se arrasta há muito tempo e é só observar que a minha denuncia já tem quatorze anos. Então quatorze anos já se passaram e você constata que nada foi feito. Eu fico triste: não é só pela perda de um patrimônio de 200 anos, mas de toda a base da nossa história que estava registrada ali. E isto é lamentável”.

Lei Rouanet

O atual secretário de Educação considera lamentável o estado em que as coisas chegaram, principalmente porque o país tem, na Lei Rouanet, um mecanismo que pode ser utilizado para a preservação de todo esse patrimônio histórico. “Mas é um mecanismo que vem sendo utilizado para promover shows, peças da broadway, de desenhos animados”.
Mas é natural que após todo acidente de grande relevância se modifique a postura lá na frente, com alterações nas normas de segurança, avaliou o secretário. “Espero que este acidente não seja em vão e que imediatamente o Ministério da Cultura comece a restaurar, inicialmente o prédio, e depois tentar recompor aos poucos o acervo. Mas é importante que se trabalhe para evitar que outros incêndios como esse aconteçam em outros belos lugares – e nós temos muita coisa a ser preservada”.

Incêndio do Museu Nacional representa também uma perda afetiva
Um incêndio destruiu, na noite de domingo, o Museu Nacional, localizado na Quinta da Boavista, Zona Norte do Rio de Janeiro. Para a professora de sociologia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, Maria Manuela Maia, a destruição de grande parte do acervo do local representa não só as perdas física e material, mas histórica irreparável. O museu tinha 200 anos e guardava mais de 20 milhões de itens históricos e científicos.
“Não são só as perdas físicas e materiais, mas principalmente afetivas. A nossa infância queimada e de tantas outras que nunca mais irão percorrer aquelas salas cheias de conhecimento e tradição. São 200 anos de história. E tradição são referências que se perdem. Faltava investimento e resta indagar a quem interessa um povo sem referências”, analisa a professora.
Maria Manuela é professora de sociologia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio