O levantamento foi feito pela consultoria IDados e reflete as consequências da pandemia do novo Coronavírus no mercado de trabalho.
Um levantamento divulgado pela consultoria IDados, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Trimestral, mostra que entre os meses de setembro de 2019 a setembro de 2020, 11,5 milhões de brasileiros saíram da população ocupada no setor privado.
Por outro lado, nesse mesmo período, o setor público criou 145,4 mil postos de trabalho. Além da criação de vagas, o funcionalismo paga o dobro da iniciativa privada. De acordo com o IDados, a remuneração média dos servidores era de R$3.951 em setembro de 2020, enquanto o oferecido pela iniciativa privada era de R$2.032.
“O ciclo de contratações do setor público acompanha muito mais o calendário das eleições do que a economia do país. Até porque os servidores, em sua maioria, têm estabilidade no emprego. E a demanda por serviços públicos, em momentos de crise, não diminui tanto quanto a demanda por serviços privados”, explica Mariana Leite, pesquisadora do IDados.
Com a queda do emprego privado, a participação do setor público no mercado de trabalho passou a rondar um patamar recorde.
No trimestre encerrado em junho de 2020, por exemplo, a proporção de funcionários público chegou a 14,8% da população ocupada, percentual máximo já apurado desde que a Pnad Contínua começou a ser realizada, em 2012. Já em setembro, o índice apresentou um leve recuo, indo para 14,3%.
Crise atual é mais grave do que a de períodos anteriores
O levantamento do IDados também identifica que a atual crise no mercado de trabalho é diferente das observadas em anos anteriores. Em períodos recessivos, a população ocupada sempre recua no setor privado, mas não com a intensidade vista atualmente.
Entre dezembro de 2015 e 2016, por exemplo, período que o país passava por uma crise econômica e financeira, foram fechados quase 2 milhões de postos no setor privado.
Ou seja, o número de empregos afetados pela pandemia do novo Coronavírus é cerca de seis vezes maior do que a verificada na última recessão.
“Em outras crises, o que a gente via, principalmente na de 2014, era uma saída muito forte do mercado formal, mas ela era compensada com uma maior informalidade da população. Dessa vez, o que parece estar acontecendo é que, por falta de emprego, a população tem saído totalmente da força de trabalho”, diz a pesquisadora.
Além da pandemia, o descontrole do avanço da doença pelo país contribuiu para que muitos brasileiros deixassem de sair de casa para procurar emprego e, por isso, passaram a ser considerados fora da força de trabalho do país.
Segundo Mariana, outro fator foi o pagamento do auxílio emergencial, que também contribuiu para quem uma parcela significativa da população pudesse ficar sem trabalhar durante a crise sanitária.
“Pelo menos para a população mais pobre, o auxílio emergencial ajudou a manter a renda. Existem registros que a pobreza caiu no Brasil, em grande parte por causa do auxílio.”