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domingo 13 outubro 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – O Corcunda de Notre Dame, da Disney

I – O nascimento da boa prosa
No ano de 1802, em Besançon na França, nasceu o menino Victor-Marie Hugo, na hora que o sol resolveu mudar de posição, dar uma espreguiçada, para depois de uma fatia de tempo, aquecer as cachoeiras que lavavam as pedrarias que dormem acima da terra. Dizem os franceses e os livros de históricos, que o conquistador romano Júlio César, se encantou com a beleza da cidade, fato que o levou a sonhar com uma mulher linda, surgida em sua passagem pelo território francês.

O que nos interessa neste momento, é que o menino nascido na região que encantara os romanos tornou-se um romancista beijado pela grandiosidade, um poeta abençoado pelas suas musas de plantão, um dramaturgo que agitou os sonhos dos teatros europeus, um ensaísta penetrado em textos e pensamentos galopados e galopantes; preocupado com os traçados da política; ativista colocado na linha de frente dos movimentos que lutam pelos direitos humanos, pelos direitos da natureza, pela liberdade dos pássaros, dos sonhos, do amor e, se sobrar protestos, batalhar pela valorização da imaginação e do sorriso.

II – Homem desassossegado
O desassossego que conduziu os passos do poeta Victor Hugo o levou ao exílio cultural, intelectual, político e, porque não dizer, pela sua maneira de agir, viver, sondar os mistérios que passeiam nos lugares mais pardacentos da existência. Afastado do seu espaço conhecido, sentiu saudades das flores do jardim da praça solitária, do cheiro da padaria, da sacaria espalhada pela venda do Blaise, do sorriso da menina, suavizada pelas molduras da janela antiga, alagada de lendas, casos ocorridos nos vácuos dos vales e montanhas. Nos ombros cansados das saudades, Victor Hugo escreveu, no calor da temperatura que subia do seu corpo, de homem afastado dos amigos e dos amores, os romances: “O homem que ri”, “Os miseráveis”, “Notre Dame de Paris”.

III – A catedral Notre Dame de Paris
A Catedral Notre Dame de Paris, símbolo arquitetônico da França, do seu passado histórico e religioso, começou a brotar no ano de 1163. Naquela época, havia aromas boiando acima da passagem do vento, carregados de cantilenas produzidas na mente do povo; as feiticeiras esvoaçavam sobre as cabeças dos campos e florestas; as Lampreias Douradas não possuíam endereço fixo, os Lobos de Ferro dormiam nas cavernas escuras, Lancelote galopava sem horário determinado para o retorno em castelos feitos de pedras sem memória.

Ao lado das cavernas na rusticidade das casas, a Catedral de Notre Dame subiu as escadarias situadas do outro lado das nuvens; recebeu artistas franceses e do mundo que, partindo de mil cores, retrataram os suspiros e Deus; os vitrais acenderam luzes retiradas do Antigo e Novo Testamento, o órgão, sem mensuração precisa, despertou a música que brincava nas notas que não haviam sido transcritas. Os arquitetos projetaram a Catedral seguindo o modelo gótico, um estilo desenvolvido na Baixa Idade Média, trazida pelos Bárbaros Godos; homens, mulheres e crianças que, retirando do fundo dos olhos da visão dos deuses que lançavam ciranda nos reflexos das estrelas, sentiram a arte como a ebulição da elevação, da busca das andanças da carruagens de fogo, que contornavam os sentimentos da lua.

IV – O romance de Victor: Notre Dame de Paris
A vida seguia a respiração emanada no interior de cada ser humano. Um vulto feminino, carregando um volume nos braços, entra no interior da Catedral de Paris. Deixa o volume em um dos bancos da igreja e, sorrateiramente ganha as ruas. A misteriosa mulher abandonara um recém-nascido, aos cuidados de alguma alma caridosa.

A criança era deformada no rosto e no seu corpo. O arcebispo Claude Frollo dá assistência ao menino; corcunda pelo peso da tragédia, cresce escondido do mundo. Com passar do tempo, torna-se o sineiro da Catedral de Paris, recebendo o nome de Quasimodo.

O povo, de um modo geral, vivia em completa miséria, vivendo na praça que circunda a igreja, patrulhada pelos soldados do rei. Entre essa população miserável, havia uma cigana, presença discriminada por problemas sociais e étnicos. O arcebispo vê Esmeralda como tentação à sua carreira eclesiástica pois, assuntos do destino, apaixonara-se pela cigana, desejando-a ardentemente. Considerando um instante dentro do tempo, os miseráveis que rejeitavam a existência do sineiro, disforme e misterioso, resolvem maltrata-lo. A cigana Esmeralda salva-o da loucura espelhada na alma daqueles infelizes. Quasimodo, embora desnaturado para desfortuna pessoal, ama a beleza, bondade, a fraternidade, o motivo que o leva a apaixonar-se pela dançarina.

Ela, embora vivendo o sofrimento dos oprimidos, ama o capitão Febo, comandante da guarda real. Dessa forma, apresentando detalhadamente a França de sua época, cria o conflito entre o poder religioso, o domínio do controle real, e o homem nascido na tragédia do abandono social; esses fatos e acontecimentos, são escorados pelo desejo sexual, a paixão e a peregrinação do amor.

V – O filme
O filme “O corcunda de Notre Dame”, da Disney, foi lançado em 1996, mantendo o trabalho cinematográfico específico e próprio dos desenhos animados desenvolvido manualmente. Os cenários, em alguns casos, foram gerados pela computação gráfica. Os roteiristas tiveram carta branca para trabalhar o romance podendo, inclusive, intertextualizar o conteúdo com cenas e materiais significativos, usados em filmes referendados pelo público. As alterações foram acomodadas aos problemas que envolvem o universo religioso, político ou social. Assim, o personagem Claude Frollo que, no livro de Victor Hugo, é o arcebispo desalmado de Note Dame, atua como um juiz impiedoso no desenho animado, alteração que tem como justificativa a preocupação em não ferir sentimentos religiosos ou sociais.

A Igreja, cenário essencial para a elaboração do romance, não sofreu modificação na transposição para o filme, no romance de Victor Hugo, nos momentos de solidão, de desamparo, de angústia que vem desde os tempos de infância, Quasimodo conversa com as gárgulas da catedral, confessando dores existenciais perdidas no vazio profundo que mora em seu coração. No filme, Disney usa as gárgulas como elementos que transitam entre alguns momentos de alegria e a dor que devora a alma do sineiro.

Por outro lado, ao som da música “La Fora”, a personagem Bela surge caminhando pelas ruas de Paris, lendo o livro que preenche os seus dramas pessoais conhecidos do grande público. Em outra cena, alguém bate o tapete mágico de Aladim, sobre o batente de um casarão Francês.

O trabalho artístico usado por Disney, envolve mais de seiscentos artistas. Equipes preparadas, viajaram até Paris, procurando ambientes que estabelecessem o clima descrito por Hugo, locais arquitetônicos onde o amor vivenciado pelo povo francês fosse sentido; ambientes possíveis de justificar o sonho; ruas estreitas onde a dor possa ter vivido.
Os desenhistas, estabelecendo determinados rodízios de horário, trabalharam 24 horas por dia. Assim, misturando as sensações, as emoções, a alegria, o encantamento, o Corcunda de Notre Dame ficou pronto. Os lápis usados na realização do filme, mais ou menos, setenta e dois mil, consumiram-se para que o cinema, a arte que nasceu dentro da magia, pudesse embalar crianças, jovens e adultos.

VI – A criação
O começo do filme é narrado pelo artista Cigano conhecido como Chopin. No início ele está em Paris, no ano de 1842 no momento em que os ciganos são barrados ao tentar entrar na cidade, pelo ministro da justiça, Claude Frollo, que mantém, dentro de si, ódio a esse povo. Três dos ciganos são presos, mas a cigana que trazia um pacote entre os braços, consegue fugir.

Frollo a persegue até a catedral; em sua cabeça é uma ladra.
A cigana, desesperada, grita, pede ajuda, Frollo dá-lhe um pontapé, matando-a. No embrulho há um bebê, completamente deformado; o ministro entrega o pequeno “monstro” ao padre da Igreja, para cuidar da criança. Pede ao sacerdote que o esconda da população, permaneça escondido no campanário. A criança é batizada com o nome de Quasimodo, significando, “do mesmo modo”.

VII – A correria do tempo
Vinte anos depois, Quasimodo é um homem isolado, sozinho, marginalizado, feio, corcunda, olhos tortos. Vive no Campanário onde aprendeu a tocar o sino e conversar com as gárgulas, estátuas monstruosas.
Frollo se ausenta da Catedral. Quasimodo aproveita para participar da “Festa dos Bobos”, a maior de Paris.

A festa dá o título de bobo a Quasimodo. Todos riem, torturam-no. A cigana Esmeralda, a bela cigana dançarina ajuda a Quasimodo. Frollo manda prende-la. Ela derrotou os guardas com o auxílio dos mendigos. A cigana que dança por uns trocados foge. Esconde-se na Igreja. Na Notre Dame, Esmeralda encontra Quasimodo que a ajuda. O Capitão Febo sente-se apaixonado pela cigana, não a persegue, o juiz descobre a sua fuga. Procura-a como um alucinado, pelas ruas da cidade.

VII – A loucura
O ministro Frollo prende muitos ciganos, ordenando que os queime em Paris. Febo se recusa a cumprir a ordem. Salva os ciganos do fogo.

Frollo ordena a morte de Febo. O Capitão tenta fugir, é ferido, caindo no Rio Senna. Frollo acredita em sua morte. O rio, a luta, o ferimento. Esmeralda consegue salvá-lo. Os dois vão para o Campanário. Quasimodo cuida do seu amor que ama Febo. Desconfiada, Esmeralda sai da Catedral. Frollo consumindo-se em desejo, procura-a na longa noite.

Ela se protege no abrigo dos mendigos “Corte dos Milagres”. Frollo prende os miseráveis. Na madrugada, Esmeralda é condenada à fogueira pelo crime de feitiçaria. Quasimodo, sob correntes, é preso no alto da Catedral.

VIII – A praça
Na praça, em frente a catedral, a cigana Esmeralda está amarrada a um poste, onde será queimada. Quasimodo liberta-se, desce do ponto mais alto da catedral. Luta muito, salvando esmeralda. Leva-a de volta à catedral, completamente inconsciente.

Frollo ordena a invasão da igreja. Há confronto, lutas. O ministro encontra Quasimodo num quarto com Esmeralda. Frollo tenta esfaquear Quasimodo. Ao tentar matar o sineiro recebe um murro. Esmeralda desperta e tenta fugir; na fugo encontra o juiz, louco, alucinado. Em seu desespero cai num lago de chumbo derretido. Esmeralda não consegue segurar a mão de Quasimodo cai mas é amparada por Febo.

O dia amanhece, todos os sofredores percebem que estão salvos. Quasimodo, mesmo apaixonado por esmeralda, entende o seu amor por Febo. Sai da catedral e a multidão o abraça. Quasímodo torna-se herói da população.

A chuva continuou caindo; a lua surgiu em seu amor como em todas as noites, o frio e o calor afagou amores livres ou torturados. Séculos depois, acharam um túmulo na mata. Sobre o túmulo havia ninhos de beija flor. Abriram-no. As estrelas desceram do céu para ver. Dentro havia dois restos mortais, abraçados.

Eram Esmeralda
E Quasimodo.
A França chorou
A sua própria história

RECEITA
TORTA CROCANTE DE DOCE DE LEITE
Ingredientes:
Base: 120 gramas de biscoito sem recheio; 50 gramas de amêndoas tostadas, 50 gramas de manteiga sem sal
Bolo: 2 ovos; 60 gramas de açúcar refinado; 1/2 colher de chá de suco de limão; 85 gramas de farinha de trigo; 30 ml de óleo; 1 colher de chá de fermento.
Amêndoas caramelizadas: 1/2 xícara de açúcar refinado; 1 xícara de amêndoas em lascas

Calda: 1/2 xícara de água; 1/4 de xícara de açúcar; 2 colheres de sopa de conhaque/whisky (opcional)
Creme: 200 gramas de chantilly batido sem açúcar; 400 gramas de doce de leite; 2 folhas de gelatina
Decoração: 250 gramas de chantilly batido sem açúcar; 2/3 colheres de sopa de rum/cachaça/conhaque (opcional)

MODO DE PREPARO:
BASE: Processe os biscoitos e, depois de obter uma farinha, adicione as amêndoas. Processe. Adicione a manteiga derretida e processe novamente. Arrume a massa no fundo de uma forma de 21 cm com fundo falso forrado com papel manteiga. Reserve na geladeira.

BOLO: Pré-aqueça o forno a 180°C. Bata as 2 claras e, quando começar a espumar, adicione 1/3 do açúcar. Bata mais um pouco e quando esbranquiçar adicione mais 1/3 do açúcar e o limão. Bata novamente e quando começar a formar leves ondinhas, adicione o restante do açúcar. Bata até ficar em ponto de pico duro. Acrescente as gemas e bata até tudo se misturar. Adicione na mistura a farinha peneirada e misture delicadamente com um fouet. Coloque o óleo e misture tudo muito bem, coloque o fermento e misture delicadamente. Despeje a massa dentro de uma forma de 21 cm com fundo falso forrado com papel manteiga. Leve para assar por aproximadamente 20 minutos. Tire do forno e deixe esfriar em temperatura ambiente.

AMÊNDOAS CARAMELIZADAS: Coloque o açúcar em um frigideira e ligue em fogo baixo. Deixe o açúcar caramelizar e adicione as amêndoas em lascas. Misture muito bem até caramelizar todas as amêndoas. Tire a frigideira do fogo e coloque as amêndoas em alguma superfície já untada. Espere esfriar.

CALDA: Coloque a água e o açúcar em uma panela e misture. Ligue em fogo médio e espere ferver. Coloque a calda em um pote e leve para a geladeira.

CREME: Divida o doce de leite em 3 partes iguais. Adicione 1 delas no chantilly e bata um pouco. Acrescente mais 1/3 do doce de leite e bata. Por fim, coloque a última parte do doce de leite e bata até obter uma mistura homogênea e aerada. Hidrate as folhas de gelatina por 10 minutos em água bem gelada. Dissolva as folhas de gelatina em fogo bem baixo ou banho-maria e acrescente no seu creme de doce de leite. Bata até que tudo se misture.

MONTAGEM: Coloque metade do creme de doce de leite na forma com a base da torta. Pique as amêndoas caramelizadas e adicione 13 delas em cima do creme. Desenforme o bolo e corte apenas o topinho dourado. Tire a calda de geladeira e, se quiser, finalize com o conhaque ou whisky. Molhe bem o seu bolo e coloque a parte molhada em contato com o creme e as amêndoas caramelizadas. Tire o papel manteiga que ficou grudado na outra parte do bolo e molhe com o restante da calda. Coloque mais 1/3 das amêndoas caramelizadas por cima do bolo. Despeje a outra metade do creme de doce de leite por cima. Leve a forma para a geladeira por pelo menos 4 horas. Antes de desenformar a torta que estava na geladeira, leve a forma para o congelador por 15 minutos. Para desenformar, passe o maçarico em volta da forma ou use a boca do fogão. Coloque a torta do prato em que irá servir.

DECORAÇÃO: Bata o chantilly com um destilado de sua preferência (opcional) e coloque em um saco de confeitar. Decore a parte de cima da sua torta com o chantilly. Para finalizar, espalhe o restante das amêndoas caramelizadas por cima do chantilly e aproveite!

Por Adriana Padoan