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terça-feira 8 outubro 2024
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Coluna Espírita – Se acreditássemos na educação…

• Marcus De Mario – Instituto Brasileiro de Educação Moral-IBEM/RJ
Percebemos claramente que nós, os brasileiros, em grande parte, não acreditamos na educação. Isso é fácil de constatar. Diante da violência, cogitamos apenas de aparatos de segurança pública: mais policiamento, mas câmeras de segurança, modernização dos armamentos, construção de presídios de segurança máxima. Diante da corrupção, pensamos em elaborar leis mais rígidas, aparelhar melhor o sistema judiciário, aplicar em investigações técnicas. Diante da miséria, elencamos medidas de distribuição de alimentos, estabelecimento de bolsas de auxílio financeiro, mutirões pontuais de serviços públicos. Diante do desemprego, estabelecemos facilidades para o empreendedorismo informal, providenciamos liberação de fundos de programas sociais, estudamos reformas econômicas. E assim por diante. Em todas as questões de ordem social quase nunca pensamos na educação. Por quê? Porque sequer sabemos, verdadeiramente, o que é educação e quais as suas consequências para a sociedade.
Entretanto, para os espíritas não é assim, ou não deveria ser assim, mas a história não muda quando se trata do movimento espírita brasileiro. Poucas iniciativas estão alinhadas com a educação do ser imortal. Vemos centros espíritas com muito mais prioridade nas atividades de tratamento espiritual e de mediunidade, do que no estudo da doutrina e na educação infantojuvenil. E quantos trabalhadores, ou tarefeiros, da seara espírita continuam com os mesmos vícios de sempre, sem combate efetivo ao seu egoísmo e orgulho! Se, de fato, acreditássemos na educação, e não a confundíssemos com o ensino de conteúdos de disciplinas curriculares, estaríamos dando um grande passo para a transformação moral da humanidade. E o Espiritismo tem uma grande e profunda contribuição nesse sentido.
Chegamos a uma questão fundamental, de essência: o que é educação? Allan Kardec não fugiu a esta questão, pelo contrário, encarou-a de frente na questão 685a de O Livro dos Espíritos, num comentário magistral a respeito da solidariedade social que deve gerir a relação entre os mais jovens e os mais velhos, quando o amparo aos que já muito deram de si reveste-se da força de uma lei moral: a caridade, e que esta tem de ser desenvolvida pela educação. As discussões teóricas nem sempre alicerçam no educador a compreensão sobre essa magna questão. Vejamos o que diz o Codificador:
“A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, sofrerá sempre intermitências e durante essas fases o trabalhador tem necessidade de viver. Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos”.
Aqui temos uma profunda colocação de Kardec. Não é a ciência econômica que resolverá os problemas sociais, ou seja, não são os economistas, administradores e outros, com seus estudos e fórmulas, que conseguirão promover uma sociedade equilibrada e justa. Isso porque falta à maioria deles dar importância à educação, ou melhor, falta entenderem o que realmente seja a educação, pois insistem em vê-la apenas como escolaridade onde se aprendem matérias curriculares, aprendizado esse avaliado por provas e notas, e coroada pelo diploma de conclusão de curso. Essa é a chamada educação intelectual, que não leva em conta o sentimento, a afetividade, os valores humanos, as virtudes, a ética, a cidadania.
Kardec refere-se à educação moral, e apressa-se em dizer que ela não se adquire pela leitura de livros, pelo conhecimento de regras, ou seja, não se limita a ensinos passados do professor para o aluno, ou do escritor para o leitor. Se ficar estacionada no campo da teoria, da discussão filosófica, não é a verdadeira educação moral. E no que ela consiste? A resposta está no próprio texto do Codificador: 1 – Arte de formar os caracteres; 2 – Conjunto de hábitos adquiridos.
Com essa visão da educação, não podemos, os espíritas, não darmos maior importância à mesma, pois é a educação moral que poderá, com o tempo, transformar para melhor nossa humanidade.